sábado

Ocupação da reitoria da USP: Símbolos e possibilidades

Erick da Silva

A recente ocupação da reitoria da USP por estudantes da universidade chamou a atenção e repercutio na grande mídia de todo o país. Como poucas vezes vemos uma ação do movimento estudantil ter recentemente causado tal “barulho”.
Isso leva alguns a afirmarem se essa ação seria um “renascimento” do movimento estudantil. Esta afirmação é errada por um lado, visto que os estudantes nunca deixaram de se organizar, se mobilizar e reivindicar melhorias no ensino e no Brasil e por outro lado, é verdadeira. Já que o movimento estudantil, desde as mobilizações do Impecheament do Collor, não tem atingido a mesma mobilização de massas e impacto na sociedade. Causando em alguns a impressão de que havia uma “paralizia”. Mas por que isso acontece?
O movimento estudantil após a queda do Collor viveu um de seus períodos mais difíceis. Onde o país mergulhava na “onda neoliberal”, onde a noção de Estado e direitos sociais passaram a ser postas em xeque. O que teve efeitos negativos em praticamente todos os movimentos sociais no Brasil. O que gerou uma mudança na pauta política, voltando-se muito mais para uma resistência e busca da manutenção de conquistas e direitos. Causando um forte refluxo no movimento, pois, se no “Fora Collor” os estudantes haviam partido para uma política ofensiva e obtido uma “vitória”, logo depois, teve de usar suas força para tentar defender os ataques as suas conquistas anteriores, como por exemplo, a política de desmonte das universidades públicas e a manutenção do caráter público e gratuito das universidades federais.
Mas também é verdade que os estudantes poucas vezes têm espaço nos grandes veículos de comunicação. Seja para expor sua situação e suas atividades e mobilizações. O movimento estudantil também cometeu os seus erros, é verdade. Como o fato de não ter conseguido romper esse bloqueio com mais freqüência. E de não ter gerado pautas e ações políticas que reencanta-se e organiza-se uma gama maior de estudantes.
Deste ponto de vista a ocupação dos estudantes na reitoria da maior universidade pública do país por um longo período pode ser um símbolo de uma nova fase no movimento estudantil. Mas esta fase não se iniciou nesta ocupação e nem se encerrará nela. Mas sim, se insere em um novo período em que o movimento passa não a ficar apenas na resistência, mas sim em buscar conquistas. E nesta conjuntura, medidas como as anunciadas pelo Governo Serra, que atingiriam duramente a autonomia universitária é inaceitável. É por isso que o movimento tem força e é por isso que se abre a possibilidade de ter ainda mais no próximo período.

quarta-feira

Violência no Rio

Mal o ano de 2007 se inicia e vemos uma "nova onda" de violência tomar conta dos noticiários da grande imprensa. Desta vez não foi o PCC em São Paulo o responsável pelo pânico na imprensa, mas venho do Rio de Janeiro a nova leva de violência.

As semelhanças entre os acontecimentos (incêndios de ônibus e ataques a delegacias) levaram alguns comentaristas a precipitadamente a levantar uma suposta articulação destas ações, como se estivéssemos a presenciar o surgimento de uma grande organização criminosa nacional a partir dos presídios brasileiros, quase que um "império do mal". Não é algo que possamos descartar de imediato (apesar dos contornos fantasiosos desta teoria), parecendo-me temerário fazer um paralelo direto entre o que ocorreu o ano passado em SP e os fatos de agora.

Primeiramente, tem que se levar em conta as peculiaridades locais. No Rio, que pese a situação crítica da segurança pública no estado, ela não possui as mesmas características de SP, a começar pela própria situação dos presídios paulistas. Através das políticas do tucanato paulista, vimos apenas se agravar um quadro de desrespeito aos direitos fundamentais dos presos, onde as "terceirizações" nos presídios já são uma realidade, além da falta total de uma política preventiva a criminalidade. Não que esta seja uma situação exclusiva de São Paulo, mas é neste estado onde esta situação foi levada ao seu extremo. Foram estas políticas desastradas que propiciaram que uma organização como o PCC viesse a ter a força e o nível de organização que tem.

O pior, no entanto, é a falta de perspectiva de uma política que de fato enfrentasse as raízes destes problemas. Por enquanto, o que temos visto é uma imprensa que a todo instante se preocupa em instalar um clima de terror na população, dando um tom sensacionalista a cobertura destes tristes acontecimentos. Infelizmente, os novos governantes apressaram-se em dar respostas no mesmo tom, chegando a classificarem como "terrorismo" o que ocorreu.

O maior problema é que, quando se envereda para este terreno, as "soluções" tendem a gerarem problemas ainda maiores. Se alguma dúvida há quanto a isto, basta pegarmos o exemplo de como Bush lidou com este "tipo" de problema. O Brasil não necessita de políticas "anti-terror", e sim de uma política que de fato previna este tipo de ação. O que não combina com nenhuma solução "mágica", mas sim com um trabalho de longa duração, com resultados por vezes de menor visibilidade (o que para alguns políticos é um problema) mas com efeitos duradouros.

Yeda para Presidente ou “a volta dos que não foram”

Na última sexta-feira, dia 27 de abril, a Governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB), afirmou a possibilidade de vir a ser candidata a presidente da República. "Não descarto de jeito nenhum", afirmou ao responder a indagação da jornalista do portal G1, da Globo.
Para quem acompanha o cotidiano da política no Estado, chega a soar quase como uma brincadeira a afirmação da Governadora. Visto que, em apenas pouco mais de quatro meses de gestão, a governadora já tem acumulado um bom número de crises e erros políticos e administrativos que tem abalado profundamente a sua credibilidade no conjunto da população.
Logo nas primeiras semanas ocorreu o problema do transporte escolar e da falta de professores e funcionários, o que gerou um início conturbado (e ainda não resolvido) do ano letivo nas escolas. Em seguida venho a crise provocada pelo aumento dos impostos, distanciando Yeda de setores do empresariado que haviam apoiado a sua candidatura por assumir um discurso de campanha contrário a medidas deste tipo. Após a vitória nas urnas, o discurso e a prática mudaram.
Logo em seguida já estourou uma nova crise, desta vez na área da segurança pública, que culminou com a demissão do Secretário de Segurança Enio Bacci, em circunstâncias até agora não esclarecidas. Pairando muitas dúvidas sobre o envolvimento do governo neste episódio. Como conseqüência desta crise, o PDT saiu do governo.
Mas os problemas da Governadora não terminaram por aí, as divergências com o Vice-Governador Feijó (DEM, Ex-PFL) que já haviam se tornadas públicas durante o episódio do tarifaço, se acentuaram com o tema do Banrisul. Ainda que ambos tenham acordo na idéia de privatizar o banco, acusações graves levantadas por Feijó contra o atual presidente do Banrisul, indicam haver algo no mínimo estranho ocorrendo. As acusações de ambas as partes tem subido de tom, e não nos surpreendemos se logo mais adiante, não venhamos a presenciar uma crise institucional no atual governo de grande repercussão.
Não bastasse tudo isso, ainda há a volta da dengue no estado (não sabemos dizer ainda se esta crise é "herança" do Rigotto, visto que o Secretário de Saúde é o mesmo), o que há muito tempo os gaúchos não conviviam com este tipo de problema. Não esquecendo também dos atrasos na folha de pagamentos dos Servidores do Estado, dando continuidade também neste quesito com o governo anterior.
Parece que agora a Governadora pretende seguir mais uma das lições do ex-governador Rigotto, que no final de sua gestão, se lançou como "candidato a candidato" a Presidência pelo PMDB. O que nunca de fato foi uma pretensão real, servindo muito mais como subterfúgio para desviar os olhares da opinião pública quanto à má gestão do Estado e tentar se fortalecer politicamente.
Agora, Yeda, imersa em uma crise permanente em sua gestão (e pela mostra que tivemos, outras crises deverão surgir nos próximos meses) tenta repetir a estratégia frustrada de Rigotto ao se colocar como possível nome para a sucessão presidencial. Tentando assim uma forma de se legitimar através de um suposto "reconhecimento nacional" as suas qualidades como administradora. Ao contrário do Rigotto, que se lançou ao final de sua gestão como uma maneira de dar um novo fôlego a sua reeleição a governador, Yeda não esperou nem concluir o seu primeiro ano de gestão para adotar a mesma estratégia.
O povo gaúcho já está "escaldado" de governantes que se utilizam do espaço público apenas como local para alimentar suas vaidades pessoais ou para "joguetes" políticos. O resultado desta vez não deverá ser diferente do que ocorreu antes, quando o povo gaúcho mostrou seus descontentamento com essas práticas e deu o seu recado nas urnas, deixando Rigotto de fora até do segundo turno da disputa eleitoral.
O futuro de Yeda não deverá ser diferente, se não pior. Olhando com algum distanciamento esses fatos todos elencados poderiam muito bem servir de inspiração para enredo de algum filme tragicômico de segunda categoria, cujo titulo poderia muito bem ser "A volta dos que não foram" ou algo do gênero. E no final deste filme, como estamos vendo, quem perde é o conjunto do povo.

Erick da Silva – Secretário da JPT POA