quarta-feira

O crime do Zé Dirceu

O mensalão voltou a tomar as manchetes dos jornalões da grande mídia por ocasião do julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal. E chama a atenção a forma desigual com que as matérias ditas "jornalísticas" cobrem este fato. Primeiro que fica nítido a intenção de requentar o tema na pauta política em uma tentativa de desgastar o governo. Segundo que em nenhum momento o direito ao contraditório é exposto.
A manipulação é nítida. Assim como as matérias recheadas de comentários e opiniões colocadas como se fossem "verdades isentas". Não é uma novidade na política recente brasileira. Vimos esta conduta da mídia em tons muito piores em 2005 e 2006.
O problema maior é que deste o início destas acusações até hoje nada foi feito por parte do governo com relação a mídia manipulativa (muito pelo contrário). E do ponto de vista do PT, partido alvo principal de todos estes ataques, até o momento não houve resposta alguma a altura.
Zé Dirceu e cia continuam sendo acobertados por alguns setores do partido e seguem dando suas cartadas incólumes. Neste caso todo, o Zé Dirceu não sei até onde ele transgrediu as leis e atacou o patrimônio público. Não sei quais atos de corrupção ele cometeu. Na minha opinião esse é um detalhe, não menor, mas que apenas é uma ponta de um iceberg que já causou os seus estragos.
O maior crime que ele e sua turma cometeram foi o do desmonte do PT e de uma idéia de partido alicerçado nos movimentos populares e na classe trabalhadora. Esse é o principal crime político cometido pelo Zé Dirceu, por que os demais são uma conseqüência deste "pecado original".
Quando tu estas em um partido ao qual o horizonte estratégico passa a ser apenas ganhar as eleições, os parâmetros éticos se tornam algo mais difuso, onde tudo passa a ser tático, onde os fins sempre irão justificar os meios. E quanto a isso, não resta a menor dúvida.
Saídas para isso ainda são possíveis, ainda que o tempo político já esteja bastante atrasado. O estrago já foi feito e a recuperação se torna cada vez mais difícil. O que não pode é seguir tentando tapar o sol com a peneira e fazer de conta que nada aconteceu e que o Zé Dirceu é uma vítima "das elites".
Na verdade o Zé Dirceu é vítima de suas próprias escolhas. Cabe agora saber se o PT seguirá acobertando e fazendo de conta ou se teremos as condições de mudar esse curso e darmos uma nova vida para o partido que é a maior expressão da classe trabalhadora brasileira. Não dá mais para ficar indefinidamente postergando este debate.

Por nenhum direito a menos, estudantes vão as ruas

Os movimentos sociais organizados inicaram o mês de agosto com fortes mobilizações pela garantia de direitos e para avançar em suas demandas históricas , que são muitas. A conjuntura exige urgência para a alteração do duro quadro de desigualdades do nosso país.A direita reacionária dá sinais de uma nova ofensiva golpista contra os interesses populares, apoiada amplamente pelo monopólio dos grandes meios de comunicação, grandes empresas privadas e demais setores que buscam manter seus privilégios e atacar os direitos historicamente conquistados pelo povo. Símbolo disso, é a "emenda 3", que resultaria em uma precarização indiscriminada das condições de trabalho. O centro de todas essas ações da direita é uma inconformidade com a decisão soberana da ampla maioria do povo que nas ultimas eleições rejeitou a volta do neoliberalismo no país. Hoje, passado o primeiro semestre do segundo mandato do Governo Lula, e a luz dessa ofensiva dos setores reacionários, os movimentos sociais se mobilizam e vão às ruas para mostrar ao governo federal e ao conjunto da sociedade qual é o nosso projeto para o Brasil. A CUT, as trabalhadoras rurais e outros movimentos já iniciaram essa caminhada.É com este espírito que a UNE e a Ubes convocam todos os representantes dos movimentos sociais para uma Jornada de Lutas. As principais atividades acontecerão entre os dias 20 e 24, com destaque para a ''Passeata em defesa da Educação'', no dia 22, que reunirá as principais entidades do país com uma bandeira unificada.A pauta de reivindicações foi definida pelos estudantes em conjunto com a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). São 18 itens ligados ao ensino básico e superior considerados essenciais para o desenvolvimento nacional. Entre eles estão a erradicação do analfabetismo, a ampliação do acesso à universidade e a implementação de ações afirmativas, gestões democráticas nas escolas de ensino médio, fim do vestibular e o passe livre estudantil.No Rio Grande do Sul, além da pauta nacional iremos à s ruas para denunciar o processo de desmonte do estado praticado pelo Governo Yeda. Desde o Governo Britto que não víamos um governo tão comprometido com os interesses de uma pequena minoria ligada ao capital financeiro e aos grandes grupos . E ao mesmo tempo, tão contrária aos anseios da imensa maioria do povo gaúcho. Não é a toa que já iniciaram o processo para a venda do Banrisul, embora durante toda a campanha eleitoral de 2006, a então candidata Yeda negou reiteradas vezes que o faria . No entanto, passados poucos meses da sua posse como Governadora, o discurso caiu por terra.Não bastasse isso, na educação estamos vivendo um dos piores momentos da história . A UERGS está completamente abandonada e sucateada pelo governo. Não será surpresa se , em algum tempo, a Governadora Yeda aparecer com a "solução mágica" de entregar a UERGS para a iniciativa privada. Na rede pública de ensino a situação não é menos dramática: Sem contratar professores e funcionários, inúmeras escolas com obras de reformas paradas e bibliotecas fechadas, a falta de segurança, fechamento de laboratórios de ciências e informática, os atrasos nos repasses da verba de autonomia das escolas e as constantes ameaças de atraso no pagamento de salários têm sido uma marca da gestãoPara piorar veio agora a "enturmação" da Yeda. Preocupada apenas em "reduzir" custos, onde se eliminam turmas que tenham poucos alunos, com a aglutinação destas em turmas maiores, que podem chegar até 50 alunos, evitando-se assim a contratação emergencial de professores. Uma medida como esta, de amontoar estudantes nas salas de aula, certamente vai piorar a qualidade do ensino, sobrecarregando os professores e reduzindo sua possibilidade de atender bem aos alunos. Como resultado teremos o aumento da repetência e da evasão escolar, o custo (tanto econômico, mas principalmente social) desta evasão e da repetência será muito maior que a suposta "economia" que a Yeda diz buscar.É nesse cenário adverso e dramático que o conjunto do movimento estudantil estará indo à s ruas neste dia 22 de agosto em Porto Alegre para dizer não a enturmação, não ao desmonte do educação e sim ao avanço da qualidade do ensino e à defesa dos demais serviços públicos. O momento exige que todas e todos nós estejamos mobilizados para barrar os ataques que Yeda & Cia estão praticando. O movimento estudantil vai mostrar a força que o povo organizado tem na defesa de seus direitos e conquistas.

A perversa herança da universidade no Brasil

O longo e duro período de gestão neoliberal no Governo Federal deixou um trágico cenário no ensino superior do país. Se durante a Ditadura Militar de 1964, o acesso à universidade era visto como um privilégio, destinado para poucos, durante os anos de FHC, este conceito mudou, passou-se a conceber a universidade enquanto mercadoria e como tal geradora de lucros.
Abandonou-se qualquer idéia de fim social para a universidade e foi esquecido o importante espaço estratégico que ela representa para o país. Pelo contrário, passou-se a entender a função dela como mera produtora de mão-de-obra qualificada, não enquanto geradora de conhecimento, colocando-se assim, a universidade totalmente a serviço dos ditames do mercado financeiro e dos interesses privados.
O ideário neoliberal foi conduzido as suas últimas conseqüências. Esta concepção efetivou-se em uma completa desregulamentação do ensino pago no país e pela sua expansão acelerada. Dados do Ministério da Educação (MEC) dão conta de que o sistema privado cresceu 116% na última década, enquanto o público apenas 30%. Hoje, temos um quadro onde 88% das instituições de ensino superior no Brasil são privadas. Paralelamente a esta expansão privada, houve um forte ataque contra as universidades públicas, onde se operou um violento desmantelamento nos mais diferentes aspectos (falta de professores e funcionários, corte de recursos, falta de investimentos estruturais etc.).
Os prejuízos para a sociedade são muitos. Apenas 15% dos jovens com escolaridade para ingressar na universidade o conseguem, a produção de conhecimento científico no Brasil é extremamente insuficiente, sem contar a carência de profissionais qualificados em setores fundamentais para o país, como por exemplo na área da saúde pública. Só poderemos avançar para um outro modelo de sociedade, que vislumbre na democracia de fato e na igualdade social se tivermos uma radical inversão desta dramática herança neoliberal no ensino superior brasileiro.
Isto só se fará possível com a valorização e priorização da Universidade Pública, democrática e de qualidade como modelo central de ensino. A predominância do privado sobre o público deve ser invertida e é com esta expectativa que toda a sociedade se vislumbra com uma possibilidade de reformulação do ensino brasileiro, do contrário, o prejuízo será incalculável.