quarta-feira

Vítimas do descaso

É comum, ao vermos estatísticas e pesquisas, divulgadas na imprensa por exemplo, termos a sensação de tratar-se de um amontoado de números "frios", que olhamos com distância e até mesmo indiferença, parecendo ter pouca relação com a nossa vida.
Mas nem sempre é assim. Há algum tempo que temos sentido "na pele" a situação crítica que se encontra a juventude no Brasil. A pesquisa divulgada recentemente "Mapa da Violência 2006 - Os Jovens do Brasil", feita pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), dá números a uma tragédia que tem cotidianamente tomado as cidades brasileiras: estão morrendo cada vez mais jovens. E a principal causa são os homicídios.
Se na população em geral, 3% dos óbitos são causados por homicídios, entre os jovens chega à marca de 39,7% das mortes. O crescimento do número de homicídios na população jovem (na pesquisa compreendida na faixa dos 15 a 24 anos) é de grandes proporções.
A pesquisa revela outro dado que merece uma atenção especial. Nacionalmente, ainda que ostentando números elevados, em 2004 temos uma queda na taxa de homicídios de mais de 5%. Esta queda, segundo Julio Waiselfisz (coordenador da pesquisa), se explica pelas políticas adotadas pelo Governo Federal específicas para a juventude, como a criação do Conselho e da Secretaria Nacional de Juventude e de programas de inclusão social específicos (como o PROJOVEM). Além dos significativos efeitos da campanha de desarmamento.
Indo na contramaré, Porto Alegre aumentou o índice de homicídios na juventude. Em 1994 (ano que iniciou a pesquisa) Porto Alegre ocupava a 15ª posição entre as capitais com maiores taxas de homicídio. Agora, na pesquisa divulgada este ano, passou para o 8º lugar. Se, na população em geral o índice de homicídios em Porto Alegre é de 40,3%, na juventude chega a 91,3%.
Para alguém que não esteja morando ou acompanhando a vida na capital chega a causar surpresa. Afinal, Porto Alegre era conhecida nos últimos anos como a "capital da qualidade de vida" e agora, ter uma situação onde o jovem morre cada vez mais é espantoso. Mas isso é uma surpresa apenas para quem não vive aqui, porque para quem está na cidade, não é difícil de entender as causas deste descompasso entre a redução dos homicídios na juventude no país e o crescimento em Porto Alegre. O grande "responsável" por esta situação é o descaso.
Primeiramente, os problemas que atingem a população em geral, atingem (em igual ou maior intensidade) também a juventude. No Estado nestes últimos quatro anos, durante a gestão Rigotto, a crise na economia encontrou, paralelamente, uma política completamente desastrosa nas áreas de políticas sociais e de segurança pública. Ações específicas para a juventude não houveram nenhuma.
Este cenário, aliado a falta de projeto da atual administração municipal, é razão suficiente para colocar a população de Porto Alegre como um todo em alerta. Ainda que o Prefeito Fogaça tenha criado uma secretaria específica de juventude, esta até agora não justificou sua existência. Já na metade do mandato, chega a impressionar a total ausência de iniciativas. Ficando muito mais no campo do discurso e das "boas intenções" da Prefeitura do que no espaço de alguma ação concreta.
Enquanto a Prefeitura fica nesta apatia, em um verdadeiro descaso, muitos jovens estão perdendo suas vidas, em um verdadeiro massacre cotidiano, vítimas de um sistema que lhes nega condições, oportunidades e direitos.

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