quinta-feira

A conjuntura pós-Sarkozy

Estamos vivendo um período onde grandes definições políticas sobre o futuro da humanidade estão em permanente disputa. Ao contrário de outros períodos, nunca vivemos tamanha falta de nitidez e unidade quanto aos principais objetivos em disputa.
Digo isso principalmente à luz dos fatos ocorridos na eleição presidencial na França. Acho que este é um bom exemplo das dificuldades que se apresentam no próximo período no cenário internacional. Do ponto de vista das forças conservadoras, há diferenças em disputa sobre quais os rumos que o capitalismo deve seguir, a vertente neoliberal, em sua versão militarista está em crise nos EUA e Inglaterra, havendo forte pressão popular (ainda que insuficiente para mudar o curso da política) deslegitimando a credibilidade e a força internacional que já teve a pouco tempo atrás tal ideário.
Agora, essa linha política ganha uma importante sobrevida, com a vitória de Nicolás Sarkozy nas eleições francesas. A direita apresentou outras candidaturas neste pleito, desde alternativas mais moderadas até posições ainda mais extremadas que a de Sarkozy. Mas o contexto de sua vitória exige que a esquerda repense a forma como tem atuado no velho continente.
Houve uma pulverização de candidaturas de caráter progressista no primeiro turno que, ainda que não tenham impedido a ida da candidatura socialista para o segundo turno como ocorreu na eleição anterior, demonstra a total incapacidade da esquerda francesa em constituir um ponto mínimo de unidade que permitisse que se freasse a ascensão de Sarkozy a presidência da França. O que não é um problema exclusivamente francês, vemos a mesmas cenas ocorrerem em outros países da Europa com resultados semelhantes.
A um histórico de traições políticas, de conversão de militantes e partidos históricos da esquerda européia para a defesa da ordem, dificuldades de mobilização social, sectarismo exacerbado e uma série de outros fatores que colaboram para que a Europa esteja hoje em um momento de dificuldades de crescimento da esquerda em seu sentido mais amplo, com algumas exceções. Esta constatação não se baseia apenas do ponto de vista eleitoral, mas no sentido mais amplo da disputa política.
Este cenário Europeu prejudica a construção de alternativas em escala global, pois temos uma conjuntura de mudanças políticas em curso na América Latina, de possibilidades na Ásia e de grave crise social na África, que uma Europa à direita e subserviente aos interesses imperialista dos EUA prejudicam muito a construção de uma contra-hegemonia. Se não bastasse tudo isso, há as dificuldades inerentes a disputa política que sempre se fizeram presentes e que agora apenas se acentuam, como por exemplo, a dificuldade de se constituir uma tática mínima e comum das esquerdas para frear estes movimentos conservadores. O processo dos Fóruns Sociais Mundiais, atualmente, não dá conta deste desafio.
É uma conjuntura curioso (para não dizer trágica), a França que no passado foi palco de dois importantes símbolos que marcaram a consciência coletiva no sentido da possibilidade de emancipação humana, que foram a Revolução Francesa e a Comuna de Paris. Hoje, por ironia da história, a França é palco da afirmação de uma guinada conservadora na Europa.
Mas este é um cenário ainda em aberto, que longe de termos conclusões definitivas, devemos construir pontes que possibilitem uma mudança favorável na Europa, o que corrobora para o restante do mundo. O central é construirmos a consciência do que está em jogo e para onde queremos ir, do contrário, as perspectivas não serão muito otimistas.

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